sexta-feira, 12 de setembro de 2014

RACISMO OU PRECONCEITO

Nascido em família negra numa cidade de colonização europeia, Gramado no Rio Grande do Sul, não senti muito do preconceito e racismo que é bem sutil. Há o convívio dos brancos e negros, estudam na mesma escola, tomam o mesmo ônibus, comem nos mesmos restaurantes. O preconceito é sutil e disfarçado, e se manifesta na seleção de empregados por exemplo, em que sem se dizer ao candidato que ele foi desclassificado por ser negro, apenas fica esperando a resposta da seleção que não vem nunca. Havia e ainda há, só que não há mais esta discriminação, um grande grupo de supermercados no estado, que só contratava pessoas brancas para o trabalho nas lojas. Acho que hoje já não tem mais isso, pelo menos na seleção de funcionários pouco qualificados. Já quando se trata de níveis gerenciais o preconceito ainda é forte, alijando da competição os candidatos que não tiverem pele de cor clara. Outras áreas também sofrem com o preconceito como a da contratação de pessoas que trabalhem com público como vendedores, ou modelos, porque "os clientes não gostam" ou pior, ser confundido como um assaltante num bloqueio policial. A pessoa negra sente o preconceito até esperando mais do que o normal para ser atendido no café, porque o atendente serve outros clientes e talvez nem perceba que discriminou o negro que chegou primeiro. O negro ao se relacionar com uma branca sofre a rejeição da família dela e até dos amigos dela que a aconselharão a se afastar para evitar ter filhos negros no futuro e sofrer com a discriminação. A negra já não sofre tanto ao se aproximar de um branco. Há também o racismo ao contrário, quando os negros evitam o contato com brancos que acusam de racistas e preconceituosos, criando suas próprias entidades sociais para atividades sem a presença do branco. Depois de adolescente já eu e meus irmãos morávamos na capital do estado onde a maioria já era negra mas ainda assim pouco visível,  morando nas vilas e favelas distantes, vindo à cidade apenas para trabalhar. Nos bairros mais nobres e elegantes da cidade o negro não faz presença notável, sendo mesmo uma exceção. O mesmo acontece com os colégios particulares de boa qualidade onde o negro é uma raridade. Nas faculdades não chega a ser uma inversão, mas encontra-se o negro em quantidade nas particulares e em menor número nas públicas, até pela dificuldade de ingresso, facilitada ao branco que estudou nas melhores escolas e pode pagar bons cursinhos. Ainda assim, esta diferença não se pode atribuir a preconceito ou racismo, mas à simples condição social de inferioridade mesma. Aí que entra a importância das cotas que algumas faculdades tentam implantar e deveria até ser lei geral para todas as públicas, pois favoreceriam muito a ascensão social do negro e não só do pobre em geral, negro ou branco. O pobre branco se estudar e aproveitar as oportunidades sobe na vida normalmente, mas o preto pobre, além de estudar e se esforçar ainda terá que vencer as barreiras sutis que aparecerão para impedi-lo. Já adolescente, fui barrado em festas apenas pela cor da pele, mas acho que isto é passado. Hoje nenhum clube teria a coragem de não deixar entrar alguém alegando que é negro apenas. Poderá criar dificuldades, com relação por exemplo ao traje, mesmo que seja um baile à fantasia, mas não chegará a barrar a entrada pura e simplesmente como aconteceu comigo no clube Cantegril de Porto Alegre, nos anos '70. Na praia, de Cidreira não pude entrar num baile porque o meu seria o baile de morenos.  Mas isso é passado. 

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