Nascido em família negra numa cidade de colonização europeia,
Gramado no Rio Grande do Sul, não senti muito do preconceito e racismo que é
bem sutil. Há o convívio dos brancos e negros, estudam na mesma escola, tomam o
mesmo ônibus, comem nos mesmos restaurantes. O preconceito é sutil e disfarçado,
e se manifesta na seleção de empregados por exemplo, em que sem se dizer ao candidato
que ele foi desclassificado por ser negro, apenas fica esperando a resposta da
seleção que não vem nunca. Havia e ainda há, só que não há mais esta discriminação,
um grande grupo de supermercados no estado, que só contratava pessoas brancas
para o trabalho nas lojas. Acho que hoje já não tem mais isso, pelo menos na seleção
de funcionários pouco qualificados. Já quando se trata de níveis gerenciais o
preconceito ainda é forte, alijando da competição os candidatos que não tiverem
pele de cor clara. Outras áreas também sofrem com o preconceito como a da contratação
de pessoas que trabalhem com público como vendedores, ou modelos, porque
"os clientes não gostam" ou pior, ser confundido como um assaltante
num bloqueio policial. A pessoa negra sente o preconceito até esperando mais do
que o normal para ser atendido no café, porque o atendente serve outros
clientes e talvez nem perceba que discriminou o negro que chegou primeiro. O
negro ao se relacionar com uma branca sofre a rejeição da família dela e até
dos amigos dela que a aconselharão a se afastar para evitar ter filhos negros
no futuro e sofrer com a discriminação. A negra já não sofre tanto ao se
aproximar de um branco. Há também o racismo ao contrário, quando os negros evitam
o contato com brancos que acusam de racistas e preconceituosos, criando suas
próprias entidades sociais para atividades sem a presença do branco. Depois
de adolescente já eu e meus irmãos morávamos na capital do estado onde a
maioria já era negra mas ainda assim pouco visível, morando nas vilas e favelas distantes, vindo à
cidade apenas para trabalhar. Nos bairros mais nobres e elegantes da cidade o negro
não faz presença notável, sendo mesmo uma exceção. O mesmo acontece com os
colégios particulares de boa qualidade onde o negro é uma raridade. Nas
faculdades não chega a ser uma inversão, mas encontra-se o negro em quantidade
nas particulares e em menor número nas públicas, até pela dificuldade de
ingresso, facilitada ao branco que estudou nas melhores escolas e pode pagar
bons cursinhos. Ainda assim, esta diferença não se pode atribuir a preconceito
ou racismo, mas à simples condição social de inferioridade mesma. Aí que entra
a importância das cotas que algumas faculdades tentam implantar e deveria até
ser lei geral para todas as públicas, pois favoreceriam muito a ascensão social
do negro e não só do pobre em geral, negro ou branco. O pobre branco se estudar
e aproveitar as oportunidades sobe na vida normalmente, mas o preto pobre, além
de estudar e se esforçar ainda terá que vencer as barreiras sutis que
aparecerão para impedi-lo. Já adolescente, fui barrado em festas apenas pela
cor da pele, mas acho que isto é passado. Hoje nenhum clube teria a coragem de
não deixar entrar alguém alegando que é negro apenas. Poderá criar
dificuldades, com relação por exemplo ao traje, mesmo que seja um baile à
fantasia, mas não chegará a barrar a entrada pura e simplesmente como aconteceu
comigo no clube Cantegril de Porto Alegre, nos anos '70. Na praia, de Cidreira não
pude entrar num baile porque o meu seria o baile de morenos. Mas isso é passado.
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