terça-feira, 23 de setembro de 2014

AMIZADE VIRTUAL

Conversas, postagem de videos e fotos, muita troca de informação, opiniões, elogios e críticas, e muita brilhantina. O mundo virtual atrai e mantém cativos milhões de patrícios, assim como acontece no mundo inteiro. O que as pessoas querem do mundo virtual? O que o mundo virtual oferece que agrada tanto assim?
Vamos penetrar numa comunicação dessas para analisar. Uma flor é postada, fotografada pelo autor do post. Assim que sobe a foto, começam os likes, ou curtir, no Face, Instagram ou outra mídia. É instantâneo. Como são muitas pessoas na rede desta pessoa que decidiu colocar a foto na mídia, são muitos os likes. Para a pessoa que dá o like, não interessa muito o que está vendo, qualidade da foto, intenções do fotógrafo, ou outros aspectos de julgamento, apenas indicar que gostou. Rápido. Viu, gostou. A pessoa que compartilhou a imagem também não está pensando em julgar quem disse que gostou, porque disse, sua motivação e qualquer outro aspecto relacionado ao fato em si, apenas em receber estes afagos na forma de likes. 30 likes, ótimo, se tiver mais ainda melhor. Na verdade ele postou esta foto, como postou outras nos dias anteriores, muitas vezes até fotos bem semelhantes, porque tem esta necessidade de comunicar-se, de receber os likes e de vez em quando algum comentário. Não é comum receber comentários, que tem uma dinâmica completamente diferente do simples like. Ainda assim na sua maioria são comentários óbvios e previsíveis: Linda!, ou Que linda! ou algo assim que representa exatamente a mesma coisa que o like, que é Gostei. Só que após o comentário emitido, há um retorno esperado que é o like do comentário. Então a dinâmica completa deste processo é a postagem, o comentário elogioso simples com "Lindo" e o like do comentário, indicando a quem fez o comentário, que o destinatário do comentário gostou. Este processo é suficiente para manter a máquina de postar algo, receber like ou comentário elogioso, e responder o comentário com like.
Mas e a vida real? Os amigos não se encontram mais? Apenas trocam figurinhas? Os amigos continuam se encontrando, mas não os 300 amigos que a pessoa tem na sua rede. Apenas aqueles 10, 20 ou até 30 amigos se encontram, combinam eventos e se ligam por telefone. Por que os demais não participam diretamente da amizade no mundo real, contentando-se com este jogo virtual? Porque não dão conta. Não tem como bancar muitas pessoas convidando-os para fazerem coisas, sairem de casa, gastarem tempo com coisas que talvez não lhes agrade, não sabendo dizer não muitas vezes e tendo que cumprir compromissos que não são de sua preferência. Então se fecham e fingem estar interessados na vida dos outros. Mas basta alguém detectando uma preferência ou gosto do amigo virtual procurar criar um evento para explorar esta preferência, curtir uma ocasião qualquer com outros amigos na mesma situação para a coisa ficar perigosa e o indivíduo bater em retirada, alegando qualquer desculpa. Exatamente como funcionava antes das redes sociais. As pessoas se encontravam por acaso ou se conheciam e as coisas ficavam assim com um "precisamos marcar um churrasco lá em casa" ou "precisamos nos encontrar num happy hour numa sexta-feira para conversar" e lá iam os dois embora felizes de ter verbalizado o quanto consideravam o amigo, pois "precisavam combinar alguma coisa entre os dois" e nunca mais procuravam esta pessoa.
Num novo encontro provável algum tempo depois era só repetir as mesmas palavras de "há quanto tempo! Precisamos marcar alguma coisa para conversar. Claro, é só me ligar que marcamos. Tiau, tiau, até nunca mais.".
O mundo virtual permite esta proximidade falsa de estar fazendo alguma coisa com o amigo, afinal estou postando alguma coisa na rede, o amigo está comentando o quando gostou disso e estou curtindo o comentário dele, não está ótimo? E sem riscos de ter que marcar mesmo um encontro.
As exceções são as conversas pela rede com aqueles 20 ou 30 amigos reais, que podem ter muito mais conteúdo, mas são aquelas pessoas que encontramos com alguma freqûência fora da rede e com quem já temos uma agenda de compromissos. Para estas pessoas, a rede é um meio de comunicação mais barato e mais prático que o telefone, apenas. Neste caso podemos ter grandes conversas, troca de opiniões e informações, marcação de compromissos, mensagens inbox e diversos outros tipos de contato. Mas estas pessoas já tinha esta interação antes das redes sociais e nada mudou.

terça-feira, 16 de setembro de 2014

Motoristas vs Pilotos

O trânsito no Brasil inteiro preocupa as autoridades e as pessoas em geral porque mata. É um massacre diário muito maior que qualquer guerra moderna. Além disso deixa uma multidão de feridos que perdem sua saúde e integridade física, as empresas perdem o tempo dos seus funcionários e as famílias choram seus membros. O automóvel é uma arma perigosa que usamos para nos deslocar pela cidade e pelo país. Pode matar e frequentemente mata. Por que? Porque é mal usada, porque as vias transitáveis são perigosas, mal sinalizadas e mal iluminadas. São razões grandes mas o que acontece é que as pessoas adquirem um veículo com relativa facilidade e também são habilitadas ao seu exercício com não maior dificuldade. Estes dois fatores somados são responsáveis pela inundação de carros nas estradas e ruas do país. Muitos veículos dirigidos por maus motoristas representa uma mistura explosiva que acaba causando a tragédia que acompanhamos todos os dias na televisão, rádio e jornais. Primeiro: o carro é considerado seguro. Ninguém se alarma ou se preocupa de ter que se deslocar num automóvel. Não é seguro. Segundo: o carro é considerado status e as pessoas compram carros ultra-potentes, mais pelo status do que por real necessidade de tanta potência. Isto causa o abuso da velocidade e das manobras perigosas causados pelo excesso de potência na mão de quem não tem o necessário equilíbrio emocional. Terceiro: a abundância de leis rigorosas regendo o assunto parece uma coisa boa. Não é. Não há uma fiscalização eficaz pelas autoridades do trânsito e policiais. A fiscalização é eventual e sujeita ainda ao propinoduto, onde o fiscal aceita suborno e rasga o papel da multa. A fiscalização efetiva, que causa efeito no cidadão, que se preocupa em não violar as leis é aquele exercida pelo oficial de trânsito, parando o veículo, tirando o cidadão de dentro do carro, conferindo documentos do carro e do condutor, verificando condições de segurança do motorista e dos passageiros, extintor de incêndio, cintos de segurança, enfim gastando tempo do apressadinho que efetuou a infração. Nada doi mais no sujeito apressado que esta perda de tempo para atender a lei depois que foi apanhado infringindo-a. A fiscalização eletrônica, com radares e câmeras tem o efeito apenas de aumentar a arrecadação da administração que tem uma fonte segura de obtenção de valores devidos aos motoristas negligentes e imprudentes, mas de maneira nenhuma contribui para a melhor segurança do trânsito e para diminuir as alarmantes estatísticas de acidentes. Precisa um político novo, decidido, corajoso, para enfrentar esta barbárie com atitudes que realmente levem o cidadão que senta ao volante de um carro pensar primeiro na segurança dele, dos passageiros do seu carro e nos demais personagens deste drama: motoristas, motociclistas, ciclistas, pedestres, coletivos, táxis e assim por diante. E depois deste momento de conscientização de que está para fazer uma coisa importante demais para ser negligenciada como de hábito, passar a se comportar no trânsito como deve. Este enfrentamento deve retirar do volante todos os que por demasiada reincidência se mostraram incapazes de entender o que de errado fazem e assim o trânsito caminhar para uma redução massiva de índices até um nível aceitável de incidentes, onde o motorista seja o terceiro ou quarto entre os responsáveis por acidentes. Um pedestre imprudente ou distraído, um animal abandonado nas ruas ou um buraco no asfalto podem ser impossíveis de prevenir ou evitas, mas o motorista em excesso de velocidade parece bem razoável de se conseguir com educação e repressão na quantidade certa.

sexta-feira, 12 de setembro de 2014

RACISMO OU PRECONCEITO

Nascido em família negra numa cidade de colonização europeia, Gramado no Rio Grande do Sul, não senti muito do preconceito e racismo que é bem sutil. Há o convívio dos brancos e negros, estudam na mesma escola, tomam o mesmo ônibus, comem nos mesmos restaurantes. O preconceito é sutil e disfarçado, e se manifesta na seleção de empregados por exemplo, em que sem se dizer ao candidato que ele foi desclassificado por ser negro, apenas fica esperando a resposta da seleção que não vem nunca. Havia e ainda há, só que não há mais esta discriminação, um grande grupo de supermercados no estado, que só contratava pessoas brancas para o trabalho nas lojas. Acho que hoje já não tem mais isso, pelo menos na seleção de funcionários pouco qualificados. Já quando se trata de níveis gerenciais o preconceito ainda é forte, alijando da competição os candidatos que não tiverem pele de cor clara. Outras áreas também sofrem com o preconceito como a da contratação de pessoas que trabalhem com público como vendedores, ou modelos, porque "os clientes não gostam" ou pior, ser confundido como um assaltante num bloqueio policial. A pessoa negra sente o preconceito até esperando mais do que o normal para ser atendido no café, porque o atendente serve outros clientes e talvez nem perceba que discriminou o negro que chegou primeiro. O negro ao se relacionar com uma branca sofre a rejeição da família dela e até dos amigos dela que a aconselharão a se afastar para evitar ter filhos negros no futuro e sofrer com a discriminação. A negra já não sofre tanto ao se aproximar de um branco. Há também o racismo ao contrário, quando os negros evitam o contato com brancos que acusam de racistas e preconceituosos, criando suas próprias entidades sociais para atividades sem a presença do branco. Depois de adolescente já eu e meus irmãos morávamos na capital do estado onde a maioria já era negra mas ainda assim pouco visível,  morando nas vilas e favelas distantes, vindo à cidade apenas para trabalhar. Nos bairros mais nobres e elegantes da cidade o negro não faz presença notável, sendo mesmo uma exceção. O mesmo acontece com os colégios particulares de boa qualidade onde o negro é uma raridade. Nas faculdades não chega a ser uma inversão, mas encontra-se o negro em quantidade nas particulares e em menor número nas públicas, até pela dificuldade de ingresso, facilitada ao branco que estudou nas melhores escolas e pode pagar bons cursinhos. Ainda assim, esta diferença não se pode atribuir a preconceito ou racismo, mas à simples condição social de inferioridade mesma. Aí que entra a importância das cotas que algumas faculdades tentam implantar e deveria até ser lei geral para todas as públicas, pois favoreceriam muito a ascensão social do negro e não só do pobre em geral, negro ou branco. O pobre branco se estudar e aproveitar as oportunidades sobe na vida normalmente, mas o preto pobre, além de estudar e se esforçar ainda terá que vencer as barreiras sutis que aparecerão para impedi-lo. Já adolescente, fui barrado em festas apenas pela cor da pele, mas acho que isto é passado. Hoje nenhum clube teria a coragem de não deixar entrar alguém alegando que é negro apenas. Poderá criar dificuldades, com relação por exemplo ao traje, mesmo que seja um baile à fantasia, mas não chegará a barrar a entrada pura e simplesmente como aconteceu comigo no clube Cantegril de Porto Alegre, nos anos '70. Na praia, de Cidreira não pude entrar num baile porque o meu seria o baile de morenos.  Mas isso é passado. 

quinta-feira, 11 de setembro de 2014

FOTOGRAFIA

A fotografia é uma forma de comunicação não verbal, significando que a verdadeira fotografia, a fotografia autêntica, dispensa legendas. Logicamente com relação à fotografia arte e não outras modalidades como a reportagem fotográfica. No caso de uma obra de arte o objetivo e a intenção do fotógrafo é passar sua visão de mundo para o espectador. Procura mostrar uma cena que mesmo comum é vista de outro ângulo, com outra intenção ou para chamar a atenção para um detalhe que passaria despercebido pelo comum das pessoas. Sua visão de mundo, sua sensibilidade e até mesmo sua orientação política perpassam o que o fotógrafo apresenta como seu produto e sua obra. Este viés político pode estar oculto, dissimulado e até estar escancarado, mas existe. Esta visão de mundo direciona o discurso que envolve a fotografia e o artista se mostra através dela e também através dela busca fazer adeptos e doutriná-los. Ao retratar uma cena de morador de rua está fazendo uma denúncia do descaso do poder público, ou do egoísmo de quem passa e não liga, ou até da sua responsabilidade direta ou indireta sobre o fato em si. Também pode apenas mostrar uma lua cheia entre nuvens e árvores com galhos secos, passando uma emoção que o luar trouxe a ele e que ele deseja transmitir às pessoas que olharem sua obra. Assim passando emoção, alegria, tristeza, ou crítica social, ou solidariedade ou qualquer outra característica abstrata impregnada na imagem a intenção é impressionar, chamar a atenção e se colocar como agente no mundo. Apresento algumas fotos que busco isso, isto é, impressionar o espectador com a minha visão de mundo e assim causar impacto e mudar a mentalidade passiva das pessoas para uma maior atividade e compromisso. Podem amar ou odiar o que faço, mas não quero que fiquem indiferentes.







Beleza






Abandono






Elegância

sábado, 6 de setembro de 2014

A graça da morte

Há um texto que circula na Internet atribuido a diversos autores, como costuma acontecer nesse ambiente, que diz que a morte não tem graça. Pois não é que tem! A morte é muito engraçada. Há quem não goste, mas geralmente não provou dela ainda. A morte é imprevisível. Isto é bom. Dostoievski foi condenado à morte indevidamente e teve a data da execução marcada. Escreveu com desespero sobre este período em que sabia que ia morrer. Depois a execução foi cancelada e foi libertado, mas ficaram as marcas destes momentos em que pensava que sua vida estava com os dias contados. Dito assim parece uma bobagem, pois não estamos todos com os dias contados? Mas esta é a diferença. Não sabemos quantos são estes dias e isto é parte da graça da morte, que não tem a menor graça quando o dia está marcado. Isto explica o suicídio, que muitos já sentiram atração e tantos tentam todos os dias. Ninguém quer morrer, mas se matar é uma tentação muito grande. Por que será? Temos dois instintos principais: eros e tânatos. O instinto da vida, da preservação, do amor, da criatividade, é eros. É o que nos mantém vivos e felizes, embora insatisfeitos. O instinto tânatos nos puxa para a morte, para acabar com a dúvida, o sofrimento, a insegurança, nos atrai para a paz do cemitério, para a satisfação final. A morte é uma porta próxima que não queremos passar, apenas porque ignoramos o que tem do outro lado. Quem passa não volta para contar o que há lá. A fé nos leva a acreditar que pode ter coisas boas, mas quem consegue pesar a fé, olhar no microscópio, detectar no raio-x. Apenas a fé parece pouco para a maioria. Então nos iludimos a seguir a vida como se essa porta sinistra nunca fosse ser transposta. Acredito que do outro lado dela tem um monte de gente com balões e bolo nos esperando e prontos para cantar parabéns a você tão logo atravessemos este obstáculo: é pique, é pique, é hora, é hora, rá tim bum: airam, airam, airam.